Saiba tudo que rolou no Seminário Hutúz

12/11/2007

O Seminário Hutúz que acontece dentro da programação do Hutuz Rap Festival 2007, teve inicio na última terça-feira, (07-11), no CCBB. A mesa foi composta pela mediadora Bárbara Santos, coordenadora do Centro de Teatro do Oprimido, e teve como palestrantes Sebastião Prata Jr, o Pratinha, filho do ator Grande Otelo, a atriz Regina Casé e o rapper brasiliense GOG. O tema abordado nesta primeira edição foi “O Mundo Mágico do Hip Hop. Um espaço para abordar as expectativas e reflexões sobre carreira e mercado”

Pratinha falou da importância do Movimento Hip Hop na formação de jovens e da existência de um espaço para experimentações, lazer e trabalho como o que a CUFA está promovendo. A apresentadora Regina Casé falou da sua experiência no grupo de teatro experimental “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, que desenvolvia um trabalho independente nos anos setenta, e que também seguia uma linha alternativa. Ela afirmou que sempre buscou um caminho não comercial, por não aceitar fazer concessões, optando pela qualidade ao invés do retorno financeiro e também por não se encaixar em determinados padrões pré-estabelecidos. Mas que com o tempo essas preocupações foram superadas, devido ao respeito conquistado pelo seu trabalho.

Atualmente, á frente do “Central da Periferia”, programa que apresenta na TV Globo, ela ressaltou a importância de se desenvolver trabalhos com essa temática em espaços não periféricos, para conscientizar as pessoas que estão alheias aos problemas do Brasil. Regina falou da necessidade de se conhecer a realidade das periferias, não apenas do Brasil, mas também de outras partes do mundo, a fim de propor novas formas de resolver os seus problemas. E mostrou um vídeo filmado por um morador de Clichy, bairro da periferia de Paris, onde ele mostrava a sua versão sobre uma rebelião, ocorrida em 27 de outubro de 2005, veiculada no mundo inteiro.

O fato aconteceu depois que dois adolescentes, moradores da região, no nordeste de Paris, morreram eletrocutados ao se esconderem dentro de um transformador de energia, e eram supostamente perseguidos por policiais, versão que é negada pelas autoridades francesas. O jovem afirmava ter “usado a sua câmera como uma arma para defender a sua comunidade dos ataques da mídia, que sempre dava versões equivocadas para o ocorrido, mesmo depois de entrevistar as populações locais, acusadas injustamente de vandalismo”.

Regina falou também que considera importante, a população menos favorecida buscar melhorias dentro da sua própria comunidade, mas que acredita ser possível encontrar novas alternativas e formas de mudanças. E que esse discurso pode ser direcionado de forma em que as desigualdades sejam diminuídas. Para ela “Só dar mole é vacilo e ter só marra também é vacilo”. Então, um diálogo entre o playboy que consome rap como um produto da moda e um rapper politizado são possíveis, desde que seja bem conduzido.

Na visão de GOG, o movimento hip hop no Brasil tem hoje uma importância fundamental para uma grande parcela da população, por ser uma música feita por pessoas da periferia e de comunidades com vários problemas estruturais, ajudando a direcionar a vida de muitos jovens antes sem alternativas, diante da má formação escolar que recebem. Ele ressaltou também que o movimento hip hop vai além da produção musical, é um modo de vida e uma forma de pessoas excluídas e com poucos recursos se organizarem e buscarem alternativas para melhorar suas vidas. Sendo a música um dos quatro elementos, que por sua vez podem desdobrar-se em vários outros, que transcendem o campo da arte e da cultura. Mas que sem dúvida os elementos rapper, dj, a arte do graffiti e o break são os fios condutores de todo esse processo, cujo lema é “faça voce mesmo”.

GOG, que é formado em Economia, falou da importância dos integrantes do movimento lerem, buscarem informações de qualidade, porém sem perder de vista os fundamentos básicos do hip hop, que é a criação, a inventividade, o respeito e o trabalho em coletividade. Para ele as soluções podem vir da própria “periferia”, no sentido não apenas espacial, mas também como uma metáfora para todos os que não estão no centro, não detém o poder econômico ou de expressão plena. Ou seja, o movimento hip hop é um movimento que tem como objetivo desconstruir velhos padrões e modelos para criar novas formas de vida e expressão, inclusive resgatando velhos talentos e dialogando com novos, como ocorreu há pouco tempo, em uma gravação da qual participaram o compositor da velha guarda da Portela Mauro Diniz e a cantora Maria Rita.

As visões de Regina e GOG convergiram em alguns momentos e divergiram em outros. Mas mostraram faces de uma mesma moeda: uma vontade urgente de mudar a realidade brasileira, que por ora se apresenta. São partidários de uma causa única com formas diferentes de ação. A mediadora Bárbara Santos analisou o debate concluindo que se tratava de uma discussão sobre como lidar com o mercado, de forma que o sonho de fazer uma carreira bem sucedida, não viesse a tornar-se um pesadelo para o profissional, sendo engolido pelas regras desumanas que o regem.

Mas quanto á essa questão do mercado, GOG deixou claro que para o movimento hip hop, não é importante ter alguns artistas fazendo sucesso comercial, isolado da grande maioria. O objetivo é fazer um trabalho que se traduza em melhoria na coletividade. E sobre o fato do rap ser taxado de não-música, por não ser “poética” e retratar uma dura realidade, o que limitaria o seu alcance em termos de público, ele arrematou “não acho que o rap deve mudar para ser aceito, porque ele é o raio-x, um reflexo da sociedade que vivemos. É um ritmo em constante evolução e movimento, que muda de acordo com a sociedade brasileira, quando houver mais igualdade, ele será mais sereno” E finalizou cantando um rap de sua autoria “Brasil com P” que começa dizendo

“Antigamente Brasil se escrevia com” Z”

E hoje se escreve com “p”

Passa pelo predileto

Pandeiro, parceiro

Preso, passou pelo pior

Piores pesadelos

Presídios, porões

Problemas pessoais

Psicológicos

Perdeu, parceiro

Passado, presente

Pais, parentes,

principais pertences

E segue a rima......

Texto: Noemia Duque.


FONTE: http://rapnacional.com.br

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