A favela na cidade

15/11/2007


Na tarde desta terça-feira o auditório da Câmara dos Vereadores de Fortaleza estava diferente. Reservado para uma solenidade bem particular, ele foi tomado por jovens da periferia. Era ainda preenchido pelo som do rap, que vinha das pickups do DJ Doido, posto lá na frente. Jovens de bonés e camisetas que lembram a cultura hip hop, desfilando com aquela postura que a classe média acostumou a temer. Mais do que ouvir um som (e cantar junto), a moçada estava lá por um motivo bem caro: a solenidade em homenagem ao Dia da Favela, comemorada agora todo quatro de novembro na cidade.

Pensado pela Cufa, a Central Única das Favelas, o dia já existe no Rio de Janeiro, e Fortaleza é segunda no País a concretizar a iniciativa. O dia remete ao momento em que um delegado conversava com o Chefe de Polícia carioca e citava uma favela como um problema a ser extinto.

Mas o que de fato muda com a criação do Dia da Favela? MV Bill, rapper e um dos responsáveis pela Cufa no Rio de Janeiro, estava presente na solenidade. Para ele, “esse tipo de reconhecimento do poder público, de parte dele, acho que mostra um primeiro passo. O de reconhecimento, de tirar da invisibilidade o que é tão presente nas diversas capitais do país”.

Esse reconhecimento tem sido trabalhado, principalmente pelo viés cultural. A música feita nas periferias do país, principalmente, tem evidência em diversos pólos de difusão, como a mídia. Não à toa a Cufa centra fogo nas atividades que envolvem as linguagens artísticas, como o audiovisual (o documentário “Meninos do Tráfico” é um desses produtos). É a oportunidade que a favela tem, de forma mais incisiva, de divulgar a própria identidade para o outro lado da sociedade.

“Acho que é um momento de troca, momento histórico. De ver jovens da favela invadindo, numa tarde de semana, um lugar como esse, da Prefeitura, tocando rap, falando de seus anseios”, coloca MV Bill. Preto Zezé, um dos responsáveis pela Cufa no Ceará (existe Cufa também no interior do Estado, em Sobral), concorda: “o espaço do Parlamento, apesar da gente viver dizendo que é do povo, demorou muito tempo pra gente conquistar”.

A solenidade teve fim com a assinatura de um termo de compromisso entre a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Assistência Social e a Cufa. Eles prevêem a execução do projeto “Fala Favela” para o ano que vem, trabalhando com jovens em situação de risco e que suas famílias não estejam incluídas no Bolsa Família.

Veja a Noticia completa em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=487444

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